Biodiversidade

Pesquisa aponta transformações em fauna marinha do estuário da Lagoa dos Patos

Estudo alerta para a possibilidade de um futuro desaparecimento de parte da biodiversidade pela superexploração da pesca

Foto: QZ7 Filmes - DP - Pesquisa mostra que animais típicos da Lagoa dos Patos diminuíram consideravelmente de dimensão

Uma pesquisa arqueológica no litoral sul comparando restos de peixes que datam de 9,5 mil anos com os cardumes atuais aponta que, devido à superexploração da pesca, determinadas características e a densidade da fauna marinha foram modificadas. O estudo da Universidade Autônoma de Barcelona com a Universidade Federal de Pelotas (UFPel) demonstra que animais típicos da Lagoa dos Patos diminuíram consideravelmente de dimensão e se deslocaram para outros corpos d'água.

Com o objetivo de conhecer os recursos e a biodiversidade marinha explorada por populações indígenas antes da colonização européia e dimensionar em que aspectos o ecossistema da costa sul do País foi modificado, os pesquisadores reuniram 50 anos de exploração científica em dois anos de estudo em campo em Santa Catarina e na metade sul do Estado. "São centenas de estudos que a gente sistematizou para saber o que os indígenas da costa brasileira se alimentavam ou não com base nos ossos dos peixes", diz o professor da Faculdade de Arqueologia da UFPel, Rafael Milheira.

A pesquisa mostra que os animais que eram consumidos por povos Charruas e Minuanos no estuário da Lagoa dos Patos continuam sendo os mesmos explorados atualmente. Com a diferença de que essa fauna aquática local, como corvinas, bagres e miraguaias, tiveram suas estruturas modificadas e sua incidência deslocada. "Eles eram muito maiores. Tinham miraguaias com um metro de comprimento", menciona. Além disso, apesar da biodiversidade ser a mesma, o volume de animais diminuiu drasticamente. Modificações que são frutos de anos de práticas de pesca insustentáveis.

Espécies que antes eram comuns na Lagoa dos Patos, agora são encontradas somente em Rio Grande e em densidades muito diminutas em comparação com o passado. "Miraguaia só com muita dificuldade, adentrando lá nos molhes da Barra", cita Milheira. O pesquisador explica ainda que, além dos danos que culminaram nas transformações da biodiversidade marinha, a pesca industrial ainda causa subdesenvolvimento de diversas espécies em razão da captura dos animais antes de alcançarem a idade adulta. "São centenas do que a gente chama de barcos empresa", explica, ao abordar a pesca industrial.

A partir da pesquisa foi possível indicar áreas consideradas hotspots, com incidência de maior biodiversidade, possibilitando a orientação de ações como, por exemplo, a criação e manutenção de unidades de conservação ou mesmo a restrição de pesca em determinados locais. Para Milheiro, a conclusão da pesquisa é que o cenário atual, em comparação com o passado, representa um sinal de atenção, sendo necessário a revisão das práticas de pescas em larga escala. "Não tem como prever quanto tempo vai demorar para as espécies se extinguirem, mas é o que vai acontecer se continuar a superexploração", ressalta.

Mais informações
- Foram analisados mais de 50 sítios arqueológicos, de diferentes povos indígenas pescadores, sendo possível a extração de informações sobre a alimentação desses grupos no período de 9 mil anos atrás até o período da colonização europeia.
- A UFPel foi parceira do projeto através do Laboratório de Ensino e Pesquisa em Antropologia e Arqueologia (LEPPARQ), que enviou vários tipos de amostras para serem analisadas na Espanha, como ossos e restos de peixes.
_ A próxima pesquisa, que deverá iniciar em breve, será na área do Taim.

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